segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A ORIGEM DA LINGUA ITALIANA

Desta vez estou postando uma história que recebi de um amigo e não sei se é verdade, mas se não for, ainda assim é uma bela historia...
Acredito que tenha um fundo de verdade, pois o Inno de Mamelli, ou o Hino da Itália, tem uma parte que diz:   "perché non siam popoli, perché siam divisi." (porque não somos povo, porque estamos divididos).

A te, amico oriundi,e l'altri no oriundi, voglio dire che siamo buona gente e, in realitá, la musica italiana é la piú bella del mondo.   Parole d'amore en questo idioma, allora,  me fai  strapparme de piacere.
          Bacci

A Europa era uma confusão de inúmeros dialetos derivados do latim que aos poucos, ao longo dos séculos, se transformaram em alguns idiomas distintos – francês, português, espanhol, italiano.
 
O que aconteceu na França, em Portugal e na Espanha foi uma evolução orgânica: o dialeto da cidade mais proeminente se tornou, aos poucos, a língua oficial da região toda.
 
Portanto, o que hoje chamamos de francês é na verdade uma versão do parisiense medieval. O português é na verdade o lisboeta. O espanhol é  essencialmente o madrilenho. Essas são vitórias capitalistas; a cidade mais forte acabou determinando o idioma do país inteiro.
 
Na Itália foi diferente. Uma diferença importante foi que, durante muito tempo, a Itália sequer foi um país. Ela só se unificou bem tarde  (1861) e, até então, era uma península de cidades-Estado em guerra entre si, dominadas por orgulhosos príncipes locais ou por outras  potências européias. Partes da Itália pertenciam à França, partes à Espanha, partes à Igreja, e partes a quem quer que conseguisse  conquistar a fortaleza ou o palácio local.
 
O povo italiano se mostrava alternativamente humilhado e conformado com toda essa dominação. A maioria não gostava muito de ser colonizada  por seus co-cidadãos europeus, mas sempre havia aquele bando apático que dizia:“Franza o Spagna,  purchè se magna” que, em dialeto,
 significa: “França ou Espanha, contanto que eu possa comer”.
 
Toda essa divisão interna significa que a Itália nunca se unificou adequadamente, e o mesmo aconteceu com a língua italiana. Assim, não é  de espantar que, durante séculos, os italianos tenham escrito e falado dialetos locais incompreensíveis para quem era de outra região.
 
Um cientista florentino mal conseguia se comunicar com um poeta siciliano ou com um comerciante veneziano (exceto em latim, que não  chegava a ser considerada a língua nacional).
No século XVI, alguns intelectuais italianos se juntaram e decidiram que isso era um absurdo. A península italiana precisava de um idioma  italiano, pelo menos na forma escrita, que fosse comum a todos. Então esse grupo de intelectuais fez uma coisa inédita na história da  Europa; escolheu a dedo o mais bonito dos dialetos locais e o batizou de italiano.
 
Para encontrar o dialeto mais bonito, eles precisaram recuar duzentos anos, até a Florença do século XIV. O que esse grupo decidiu que a  partir dali seria considerada a língua italiana correta foi a linguagem pessoal do grande poeta florentino Dante Alighieri.
 
Ao publicar sua “Divina Comédia”, em 1321, descrevendo em detalhes uma jornada visionária pelo Inferno, Purgatório e Paraíso, Dante havia  chocado o mundo letrado ao não escrever em latim. Considerava o latim um idioma corrupto, elitista, e achava que o seu uso na prosa  respeitável havia “prostituído a literatura”, transformando a narrativa universal em algo que só podia ser comprado com dinheiro,  por meio dos privilégios de uma educação aristocrática. Em vez disso, Dante foi buscar nas ruas o verdadeiro idioma florentino falado pelos  moradores da cidade (o que incluía ilustres contemporâneos seus, como Boccaccio e Petrarca), e usou esse idioma para contar sua história.
 
Ele escreveu sua obra-prima no que chamava de dolce stil nuovo , o “doce estilo novo” do vernáculo, e moldou esse vernáculo ao mesmo  tempo que escrevia, atribuindo-lhe uma personalidade de uma forma tão pessoal quanto Shakespeare um dia faria com o inglês elizabetano.
 
O fato de um grupo de intelectuais nacionalistas se reunir muito mais tarde e decidir que o italiano de Dante seria, a partir dali, a língua  oficial da Itália seria mais ou menos como se um grupo de acadêmicos de Oxford houvesse se reunido um dia no século XIX e decidido que – daquele ponto em diante – todo mundo na Inglaterra iria falar o puro idioma de Shakespeare. E a manobra realmente funcionou.
 
O italiano que falamos hoje, portanto, não é o romano ou o veneziano (embora essas cidades fossem poderosas do ponto de vista militar e  comercial), e sequer é inteiramente florentino. O idioma é fundamentalmente dantesco.
 
Nenhum outro idioma europeu tem uma linhagem tão artística. E, talvez, nenhum outro idioma jamais tenha sido tão perfeitamente ordenado para  expressar os sentimentos humanos quanto esse italiano florentino do século XIV, embelezado por um dos maiores poetas da civilização ocidental.
 
Dante escreveu sua “Divina Comédia” em terza rima, terça rima, uma cadeia de versos em que cada rima se repete três vezes a cada cinco  linhas, o que dá a esse belo vernáculo florentino o que os estudiosos chamam de “ritmo em cascata” -  ritmo esse que sobrevive até hoje no  falar cadenciado e poético dos taxistas, açougueiros e funcionários públicos italianos.
 
A última linha da “Divina Comédia”, em que Dante se depara com a visão de Deus em pessoa, é um sentimento que ainda pode ser facilmente  compreendido por qualquer um que conheça o chamado italiano moderno.
 
Dante escreve que Deus não é apenas uma imagem ofuscante de luz gloriosa, mas que Ele é, acima de tudo, l’amor che move il sole e  l’altre stelle... “O amor que move o sol e as outras estrelas...”
           Elizabeth Gilbert

Um comentário:

  1. - Ciao, bambina!
    - L'italiano è bellissimo, è vero...
    - Pena que lá eles façam músicas lindas, mas dão-lhes títulos pornográficos.
    - "Come prima"...
    - "Per una donna"...

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